Quando ando pelas ruas, de máquina fotográfica na mão, o meu olhar infiltra-se em todos os espaços. Interiores e exteriores.
Para o fotógrafo, a própria escuridão é um labirinto de imagens.
Pour le photographe, même la nuit la plus profonde est un labyrinthe plein d’images.
Sendo eu quem sou: a minha fotografia está, naturalmente, entre o visual e a palavra. Idealmente, as minhas fotos seriam como aforismos ou haikus. Fragmentos de pensamento, tanto como de realidade.
Pour moi, la photo tiens autant de l’image que des motos. Je cherche à faire des photos qui seraient comme des aforismes ou des haikus: dês pensées arrachées à la realité.
Imagens sem memória? É coisa que não existe. Não consegues ver uma foto, sem que a memória funcione.
A arte transforma o passado em futuro.
L’Art transforme le passe en futur.
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Aos olhos dos velhos, que todos os dias olham a morte nos olhos, temos todos a mesma idade, até os bébés.
Sou feito de continuidade, mas também de tensões e rupturas. Mas nunca regresso a lado algum: todo o meu ser está atirado para a frente.
Nenhum diálogo (infelizmente) é mais enriquecedor do que aquele que mantenho comigo mesmo. Eu sou um campo infinito de possibilidades.
Forças primordiais? Há muitas. O medo, por exemplo, é uma delas e das mais poderosas. O medo tem ainda mais força do que o amor como matriz constituinte.
Não há abrigos. Apenas a ilusão de abrigos. Estamos expostos a tudo, permanentemente. A tudo e todos. O acaso é a regra e a lei é a morte.
Não há liberdade sem disciplina. É uma grande lição. Mas a única disciplina que é necessária é interior.
Sou pelos ritmos irregulares, pelas dissonâncias harmoniosas. A música deve questionar-nos, mas não aborrecer-nos ou agredir-nos.
Para mim, música e silêncio não são contrários. As melhores sinfonias que ouvi, foi ao olhar os céus estrelados.
O som de um regato a correr, o riso de um bebé, a brisa que sussurra numa árvore. Haverá música mais maravilhosa?
Deus tem o sentido das metáforas.
Legenda para uma fotografia: «Vejam como vos vejo».