terça-feira, 15 de março de 2011

Peter Sloterdijk: «Être écrivain c’est ce laisser contaminer par les substances dangereuses de son époque».
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Só há dois tipos de pessoas verdadeiramente livres: as que têm tudo e as que não querem nada.

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Não me posso queixar. Nem isso posso.

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O que as árvores segredam, ouço com a caneta.
Na paisagem e no céu, estou sempre a descobrir poemas.

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Se nunca me tivesse perdido,
Nunca te teria encontrado.

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Sou tão superficial como este lago
E tão profundo que morrerei
Antes de vir à tona de água.

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Pensa nisto: quer passes a vida a pensar na morte, ou nunca penses nela, o resultado é o mesmo.

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Os vivos precisam dos mortos, por variadíssimas razões, sendo que uma delas é que sem eles não existiriam. Em contrapartida, tenho dúvidas de que os mortos precisem dos vivos.

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Projecto fotográfico: casais improváveis.

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Confissão

Os meus apontamentos são, frequentemente, escritos sobre textos alheios. Escrevo quase sempre nas costas dos outros.

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Toda a gente fala dos inconvenientes da velhice, mas poucos referem as vantagens. E há muitas. Tal como há em morrer. Mais que não fosse, morrer é um descanso.

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Schopenhauer: «Agora que se aproxima a minha morte, posso confessar: desprezo a nação alemã por causa da sua estupidez infinita, e tenho vergonha de lhe pertencer».
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Conheci um parvalhão que se diz fotógrafo. Segundo ele, «é impossível tirar uma boa fotografia a uma mulher feia».
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«Alguns velhos morrem, só porque já ninguém gosta deles», lembra Henry de Montherlant.

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Voltar a um livro passados muitos anos, é como regressar a um país que se visitou em tempos. Já não vamos encontrar as mesmas coisas. E ainda bem.

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Nunca entenderei porque é que certas mulheres tão bonitas têm os pés tão feios.

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Lao-Tseu: «Não faças nada e tudo será feito».
Ditado português: «Não faças nada, compra tudo feito».
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Henry de Montherlant: «Attendez un peu: le temps vous vengera».
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Só estamos com alguém que está connosco.

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A dependência que a maior parte das pessoas tem do telemóvel não abona nada a favor delas. Quem não sabe estar sozinho e em silêncio, não passa de um pobre coitado. Não devia haver melhor companhia do que a nossa, nós devíamos ser os nossos melhores interlocutores.

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Só admiramos verdadeiramente uma obra quando concluimos: eu não faria melhor. Do mesmo modo, só admiramos quem parece ser melhor do que nós.

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Houve um tempo em que não gostava de dormir, porque achava que era uma perda de tempo. Hoje, queria era dormir.

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Cair em si. Todas as quedas moem.

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Sempre que falo muito, arrependo-me. Também me arrependo sempre que publico um post neste blogue. Mas continuo a fazê-lo, porque quando não o faço, me envergonho da minha cobardia.

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Imagem-narrativa. As fotos que prefiro.

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Gosto tanto de ti que gostaria de ser teu filho.

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Tenho pena dos políticos: preferem ser imbecis e corruptos a não serem nada.

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A ambição nasce sempre de um complexo de inferioridade.

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Um filho, um amigo, uma namorada: uma só pessoa vale mais do que um país inteiro.

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Como dizia Pavese, «o maior pecado é uma existência mal governada».
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Um blogue dá-nos a ilusão de não falarmos sozinhos. Mas enganam-se os que pensam falar para uma multidão. Só temos um leitor de cada vez.

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Cesare Pavese:

«Agimos sempre no sentido do destino»

«Não se recordam os dias, recordam-se os instantes».

«A força da indiferença! – é ela que tem permitido às pedras permanecerem imutáveis durante milhões de anos.»

«Um bom começo seria modificar o nosso passado».

«Antes de nascer, estávamos todos mortos».

«Nunca esquecer que, por baixo de tudo, o homem está nu».

«Sofrer é sempre culpa nossa».

«O nervo de qualquer enredo é este: ver como certa personagem se desembaraça em determinada situação».

«… a vida é dor e o amor correspondido um analgésico, e quem desejaria acordar no meio de uma operação?»

«Se é verdade que nos habituamos à dor, como é que, com a passagem dos anos, sofremos cada vez mais?»

«E acima de tudo, ter presente que fazer poesia é como fazer amor: nunca se saberá se a nossa alegria é partilhada».

«A recompensa por termos sofrido tanto é, depois, morrermos como cães».

«As lições não se dão, recebem-se».

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Outro aforismo de Pavese: «Não nos libertamos de uma coisa evitando-a, mas só passando através dela».

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Não me venham dizer que a infância é um tempo maravilhoso. A minha foi uma merda. A juventude foi arrebatadora, mas sofri muito mais do que gozei. E na chamada «idade da razão» pouco mais fiz do que trabalhar no duro para criar os meus filhos. Em boa verdade, a vida só começou a ser generosa para mim já perto dos 50 anos.

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Nenhum ser vale mais do que qualquer outro.

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A boa fotografia torna incrível a coisa mais banal. A má vulgar banal a coisa mais extraordinária.

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O fotógrafo está sempre em estado de expectativa.

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Frase magnífica de Pavese: «Há vestidos tão belos que dão vontade de os lacerar».
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Uma ideia extraordinária que encontrei em Pavese: a dor como recordação de Deus.

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Anne Michaels:

«Um poeta sabe que nenhuma palavra deve ser desperdiçada. Quanto mais inexprimível é alguma coisa, mais exactos devemos ser.»

«As personagens ajudam-me a caminhar e adensar-me nas perguntas».

As nossas vidas estão inscritas nos nossos corpos. Às vezes os mortos descansam e outras não».

«A recordação leva-nos ao futuro».

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Não tenhamos medo de desaparecer. O mundo inteiro não tardará a seguir-nos o exemplo.

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México, no dia dos mortos, é a vida que se festeja. O Dia dos Mortos é uma explosão de alegria.

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Imaginem sair um dia à rua de fato e gravata e ver que está tudo de pijama. Quem é que acham que se ia sentir mal?

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